Vamos derrubando logo nesse primeiro parágrafo esse papinho de “não quero alguém”. Todo mundo quer alguém, afinal: “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. O ser humano não foi feito para ser só, diferente de muitos outros seres, nós começamos a vida rodeados de gente que não nos larga até partirem para o andar de cima. Sejam essas pessoas, seus pais, seus avós, irmãos, tios… Não importa! Eles nos acompanham sempre, e encontrar um parceiro ou uma parceira, não quer dizer largá-los.
O homem é um ser social, sem interação ele não evolui, estagna. Cada indivíduo aprende a ser um “ser humano” nas relações com os outros homens, quando se apropria da realidade criada pelas gerações anteriores, apropriação essa, que se dá pelo uso dos instrumentos e aprendizado da cultura humana. A cultura, as gerações anteriores, e todos os grupos, fazem de você quem você é, e te dizem no que acreditar, como viver, dentre muitas outras coisas. Ok, chega de psicologia social!
Além de tudo isso, o ser humano emite sinais, através da forma de se vestir, de ser relacionar, de se portar, e até de gesticular. E esses sinais são claros, não vê quem não quer. Vejo muito por aí gente dizendo que quer curtir sua solteirice e juventude, mas, será?
O que mais vejo nas baladas são mulheres lindas, perfumadas, bem empregadas e solteiras, com roupas cada vez menores, com maquiagens cada vez mais carregadas, tomando porres homéricos, dançando em poses e closes ginecológicos(como diria Arnaldo Jabor) que chegam sozinhas e saem sozinhas. Advogados, artistas, empresários e engenheiros, que estudaram, trabalharam, alcançaram o ápice da vida profissional e hoje estão sozinhos.
É fácil de ver, estamos com carência de ganhar um beijinho roubado, fazer um cafuné, ligar no meio do dia sem nenhum motivo real, andar de mãos dadas, olhar no olho, sentir o coração acelerar e as borboletas voarem enlouquecidas no estômago. Ou seja, dar e receber carinho sem ter que, mais tarde, mostrar uma performance digna de um atleta. Coisas simples e gostosas que fomos perdendo nessa “evolução”(???) emocional e sentimental da sociedade.
Confesse, às vezes, bate o desespero, o medo de não saber sentir, ou até o medo de não achar alguém. Claro, tem horas que é bom sair sem compromisso, sem dar satisfação a ninguém, beijar o primeiro que vê só por capricho, beijar o amigo do ex pra provocar, beijar um, dois, três, quatro… e dormir de consciência limpa. Mas tudo isso é superficial.
Não se pode parar até que se alcance essa realização profissional. Ser sozinho é atual, é moderno. Sair na noite, pegar geral e não se envolver é natural. E é comum dizer “é opção minha, não quero nada sério com ninguém”, mas, nem sempre é. E aí começa a busca(consciente ou não) por outros meios de suprir essas carências.
Além do velho gigolô e da mais velha ainda prostituta, inventaram muitos outros tipos de acompanhantes, é “personal dance” pra cá, “personal friend” pra lá. E não se trata apenas de sexo, porque sendo isso, a solução é bem simples e prática (talvez não tão prática em certos casos). Se trata de carência geral e total, e ao mesmo tempo compartilhada. Calma, eu explico: muita gente ao mesmo tempo, sentindo as mesmas carências, cada uma em seu canto.
E, cada vez mais as pessoas buscam a ciência pra ficarem mais jovens, mais bonitas, viverem mais, ficarem mais magros, mais sarados. Estamos ficando cada dia mais bonitos e sozinhos, vivendo de aparências. A “felicidade” do pegador, é a solidão mascarada. Se ele se mostrasse tão sozinho do jeito que é, atrairia tanta gente? Eis a questão: abrir o coração ou manter as aparências? A “felicidade” da mulher que diz que separou e agora se sente feliz, livre, leve e solta, existe? Ou é só uma fuga do medo de envelhecer sem ter alguém ao lado?
Todo mundo quer encontrar alguém pra ficar, e não é o termo “ficar” que se usa pra um relacionamento sem compromisso. É o ficar de ser alguém que vem e fica contigo, de verdade. Por mais escondida que seja essa vontade, ela existe. Sendo que, revelar isso tá fora de cogitação. Amar é brega, é démodé. Mas pera aí, pra quem? O ser humano vive se contradizendo! Enquanto diz que não quer se envolver, é completamente carente. O problema é: as pessoas desistem muito fácil do amor. Num mundo onde tudo é “pra já”, fast-food, prático, globalizado, rápido e fácil, ninguém quer perder tempo lutando pelo amor. Estamos mal acostumados. O amor é o tipo de coisa que não cai no colo, a gente tem que trabalhar pra dar certo, é um trabalho em dupla que pouca gente ainda se propõe a ter.
Agora me diga: amar é démodé? Ok, paixonites, amor e coisas do tipo nos deixam abobados, ridículos, invencíveis… Mas, o que importa? Antes um bobo feliz que um frustrado. Você quer ser feliz? Beba todas e fale merda pra alguém, meta a cara no meio fio e leve pontos na testa, corra na chuva atrás de um carro, chore por amor, ligue bêbado, cante no banho, pegue o carro e vá parar no outro estado sem aviso prévio, escreva e mande aquela carta(ou email)… Não é novidade pra ninguém, o tempo de ser feliz é pequeno, como o tempo de viver. A felicidade se encontra nas pequenas coisas, e especialmente nas loucuras e burradas que se faz. Afinal, depois temos do que lembrar e rir.
Você não precisa ficar chato depois que cresce, aliás, você não precisa crescer tanto. Lembra como você era feliz só de jogar bolinha de gude? Não esqueça o quanto gosta de algodão-doce. Não esqueça que você não precisa deixar o algodão-doce pra ser adulto e “maduro”. “O que realmente não dá é continuarmos achando que viver é ‘out’, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: ‘vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza que vou me arrepender pelo resto da vida.’”
Nunca houve realmente um tempo onde o bom era ser sozinho, ser sozinho é que deveria ser démodé. Ser feliz não tem a ver com quantos anos você tem, amar também não. O amor nos traz felicidade. A felicidade também pode até te levar a encontrar um novo amor. Nem tudo dura pra sempre, não pense demais, não calcule demais. Apenas viva e deixe viver, ame e deixe que te amem. Pode ser que vocês se casem, tenham filhos e fiquem juntos pro resto da vida, mas também pode ser que não. E se não for pra sempre, foi bom enquanto durou. Então, aproveite enquanto está acontecendo! Esqueça o que pode acontecer depois, o que pode dar errado ou certo. O amor não é racional, chato, nem ranzinza. Ele é patético, como tem de ser.
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