Seria fácil viver e se relacionar num conto de fadas, onde ninguém erra, ninguém se magoa, ninguém é injusto, enfim, tudo é perfeito. Mas isso não é a vida real, e acreditar piamente em contos de fadas pode não ser bom. Eles fazem a vida parecer errada demais. Se você espera a perfeição, vai parecer trabalhoso demais um relacionamento onde as pessoas erram, se perdoam e aprendem lições.
Não se pode colocar um conto de fadas como um modelo de vida a ser seguido. Qual a mulher que gosta de ficar em casa varrendo e cantando, esperando um príncipe encantado? Qual a mulher que quer ficar deitada, dormindo até que o príncipe chegue e a salve de tudo isso? Nenhuma! Cada dia mais, as mulheres são donas de si, e não querem nem ouvir saber naquele papinho ‘boring’ de esperar a vida acontecer, ou esperar a boa vontade de um príncipe – que, convenhamos, não existe!
Cinderela tá lá, passando pela terceira vez pelo supermercado. Ela gosta do carinha do caixa. Tudo isso por culpa do Mr. Enchanted, que mal aparece em casa. Branca de neve vai lavar o chão e cantar, porque o que se pode fazer com sete anões? Ela manda os sete dormir e liga pra qualquer carinha da lista de telefones úteis dela e pergunta se ele o encontraria à meia noite, num bar qualquer. Bela adormecida tá de tpm, olha pro lado e manda o príncipe ir dormir. Ela prefere dormir a vida inteira a assistir ele atrapalhando seus sonhos. Rapunzel berra que se soubesse que homens costumavam escalar cabelos teria os cortado ela mesma, e gastado muito menos em produtos. Agora sai da torre e vai procurar uma mais distante ainda, agora sabendo que deve ficar longe das janelas.
Apesar de não ser tão velha assim, já conheci muita, mas muita gente mesmo que não abre mão da sua liberdade, das baladas, viagens e sexo casual com loucos desconhecidos. Curtir a vida adoidado pode ser ótimo, mas tem algum momento que você quer alguém pra te acompanhar. Quem não consegue abrir mão do comum, sair da mesmice e apostar em algo além, forte, duradouro e raro; ganha de presente um vazio. Um vazio que mais dia, menos dia, cobra seu preço.
Ela sempre sonhou com contos de fadas. Ele nunca pensou no assunto. Ela esperava o príncipe num cavalo branco (ou numa ferrari vermelha, que seja!). Ele queria a que aparecesse pela frente e fosse bonita. Ela acreditava em finais felizes. Ele já criou muitos finais infelizes. Ela quebrou a cara muitas vezes por sonhar com amores perfeitos. Ele já quebrou muitas caras.
Ela sonhava com um príncipe, ou sei lá, um cara lindo e gostoso que a amasse pelo que ela é, diz e pensa. Aquele cara que sabe quando você não tá bem, que faz surpresas e sabe se expressar, que te faz sorrir quando você mais precisa, que te compreende, que não é machista, que gosta das mesmas coisas que você. Ela sonhava com algo que nunca existiu.
Ao longo dos anos, ela foi se envolvendo com caras que nunca corresponderam às expectativas dela, afinal, são humanos. O que se pode dizer? Ela foi magoada por todos eles, de alguma maneira. Se envolveu com calhordas, que passaram por cima de tudo que ela acreditava, sonhava e esperava, sem se quer olhar para trás. Ela superou alguns, esqueceu outros, e fez com alguns o mesmo jogo imbecil ao qual foi submetida. Muitas vezes, quase desacreditou no amor verdadeiro.
Muitas vezes entrou em relacionamentos por não gostar muito de alguém, era o que diziam: “nunca goste mais dele, do que ele de você”. Magoou muita gente também, mas, tudo é um processo. Temos que experimentar de tudo pra saber do que gostamos mais. Ela escolheu ser alguém que se deixa magoar, mas ama. Ela dava valor a pequenas coisas. Um pequeno gesto poderia salvar, ou destruir o seu dia. Guardava tudo na memória; brincadeiras, sorrisos, estupidez, cheiros, momentos, jogos, sensações, brigas, pele, músicas, beijos, abraços, palavras, gostos… Tudo!
Ele não se importava com ela, nem com ninguém. A vida era boa demais para preocupações banais. Os sentimentos dela se encaixavam perfeitamente em “preocupações banais”. Ele ligava, ele mandava mensagem, email, escrevia, mas só quando queria alguma coisa. Era bonito, e fazia mesmo o tipo de qualquer garota na idade dela. Sabia falar, sabia fingir. Ele se magoou com alguém uma vez, mas passou por cima. Mal sabe ele que no amor, uma mágoa é ferida aberta que só cessa de arder quando pensada, sentida, chorada, falada, escrita, gritada… Enfim, quando é expressada.
Eles namoram. Um belo dia, num reino não muito distante, um cara inventou uma história e disse que a garota deveria acreditar nele. E ele conta o mesmo conto a todas. “Você não confia em mim, amor?” Você assiste aquilo tudo, berrando por dentro: “Diga NÃO, não confie nele!” Mas ela acredita, ela se apaixona, ele leva ela para o precipício. Depois de aproveitar tudo que ela pode oferecer, ele a empurra precipício abaixo, deixa ela e o coração beeem lá embaixo, em pedaços. É assim que acontece.
Eles namoraram por um bom tempo até ela descobrir que ele tinha outras. Ela se magoou, chorou, e esperou cicatrizar. Ele, quando percebeu que a perdeu, pegou o cavalo branco e correu o máximo que podia. Mas o seu máximo era pouco, seu cavalo branco era manco, o príncipe era defeituoso. Chegou um pouco tarde, ou não. Ela o perdoou, mas não o quis de volta. A princesa já estava com outro, um plebeu qualquer, que talvez não sirva de nada na vida dela. Mas, ela aprendeu a usar bem um passatempo. Nunca se sabe quando o plebeu vira príncipe, muito menos quando o príncipe é, na verdade, plebeu por dentro. E o fim disso não se sabe, na vida real, os amores não pode ser reduzidos a um “felizes para sempre”.
Contos de fadas podem sempre existir, no coração de quem acredita e toma a lição do conto pra realidade. Gente que leva o que tem de bom nos contos de fada pra vida, gente que acredita no amor, gente que sabe que vai encontrar alguém especial… Essas pessoas vão ter seu conto de fadas, ou conto de fatos – que, convenhamos, pode ser muitíssimo melhor! Na vida real, às vezes, o príncipe foge com a princesa errada ou o feitiço acaba e os dois amantes se dão conta de que são melhores separados. Nem sempre o fim é feliz, mas tudo é real.
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