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domingo, 3 de abril de 2011

A origem

Não, esse não é um post religioso. Não, não estou fazendo apologia a nenhuma religião ou crença. Nem muito menos ao heterossexualismo. Mas começarei falando do Gênesis, se é que tem alguém que não sabe; o Gênesis é o primeiro livro histórico da Bíblia e narra a criação do mundo (o céu, a terra e todos os seres). E é nesse livro também que está a história da origem de Adão a partir do pó da terra e de Eva, a partir da “costela” de Adão. Pra quem não sabe, Deus disse-ou pensou alto, ou só pensou- bom, isso também tá no Gênesis: “não é bom que Adão esteja só; vou dar-lhe uma companheira que lhe esteja à altura”.
Afinal, nenhum dos animais criados por Deus, podia ser um interlocutor adequado para Adão. Eva foi feita do LADO de Adão, e não da costela, como costumam dizer. Não vou entrar nessa discussão mas, quando um texto é traduzido, é natural que quem traduz coloque um pouco de sua interpretação na tradução. E como a bíblia foi traduzida muitas vezes até chegar no bom português… Bem, entenderam né? O sentido original vai se perdendo. Em hebraico a palavra “zela” é utilizada, ela significa lado e não costela. E isso é apenas uma metáfora para dizer que Eva não foi tirada da cabeça de Adão – para ser sua senhora, nem dos pés – para ser suas escrava. Eva foi tirada do seu lado, do lado do coração, para ser sua companheira. Ela sim, é a interlocutora perfeita para Adão.
Há desde sempre uma relação profunda entre homem e mulher. Eles se buscam. Há atração, fascínio e magia no relacionamento entre eles. E porque isso acontece? Foi elaborado um midraxe-hagadá para responder isso. Ok, vamos por partes… Existia uma técnica utilizada pelos antigos mestres, rabinos e comentadores do texto bíblico sagrado, para explicar melhor os motivos e mensagens anunciadas. Essa técnica era chamada de  midraxe-hagadá, que nada mais é do que a ampliação das histórias bíblicas, enfeitando-as com dados verdadeiros, legendários ou fantásticos. Falei desse midraxe-hagadá para chegar no ponto principal, o amor. Esse midraxe quer esclarecer a unidade plural do ser humano-masculino e feminino-. Mostra as razões da separação que os atordoa, explica a atração fortíssima entre eles, e fundamenta a vontade de se unirem numa só realidade viva, através do amor.
O objetivo do midraxe-hagadá nunca foi negar ou modificar a história original, e sim tirar lições e ampliar o sentido do texto para a vida. Para explicar a atração, a magia e o fascínio natural entre o homem e a mulher, foi elaborado o seguinte midraxe-hagadá: No começo o ser humano era homem e mulher ao mesmo tempo. No mesmo corpo, tinha rosto e aparelho genital masculino na frente e feminino atrás. Por conta do pecado, Deus cortou esse ser ao meio. E assim foram separados, homens e mulheres, cada qual com o seu respectivo corpo.
Por isso homens e mulheres vivem até hoje separados. Mas, por uma paixão congênita, eles estão incansavelmente à procura de sua respectiva cara-metade. Estão sempre se atraindo um pelo outro. Se apaixonam, namoram, se amam e finalmente, se casam. Quando se fundem um no outro, se transformam novamente numa só carne. E aí acabam por refazer o projeto originário de Deus.
Agora posso dizer, me baseando nisso tudo, que todo mundo precisa de amor. Mas que, entre a necessidade e suprir ela, tem uma grande diferença. Todos precisam de amor, independente de qual seja, mas nem todo mundo se abastece dele. Sei que o amor não se explica, a gente simplesmente sente. E que existem muito mais coisas por trás desses sentimento do que julga a nossa vã filosofia. “Agora, há 6 bilhões 564 milhões 918 mil e 671 pessoas no mundo: Algumas estão fugindo com medo, algumas estão indo para casa, algumas mentem para conseguir superar o dia. Outras estão encarando a verdade neste momento. Algumas são pessoas ruins, em guerra contra o bem. E algumas são boas, lutando contra a maldade. Seis bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões de almas…. E algumas vezes, você só precisa de uma”. É como diria Nietzsche: Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.




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