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segunda-feira, 25 de abril de 2011

“Quem se conhece por algo escrito, apaixona-se pela alma”.

Sentaram-se juntos numa sala nem tão clara que pudessem ver defeitos, não tão escura que não pudessem escrever. Os dois começaram o romance, escreviam juntos com a maior facilidade, um completava a frase do outro.
Era como se o raciocínio de um só ficasse completo com o do outro. Idealizaram o rapaz, a moça, os impecílios, o amor. A história corria num ambiente que agradava aos dois autores. Era um fim de tarde, um fim de tarde num parque. Personagens que não tinham personalidades que se encaixavam tanto ou talvez tivessem, talvez fosse o fato de se parecerem tanto em defeitos e qualidades que complicava as coisas. Mas que importa isso?
“Veja, até Chico já disse: ‘Mesmo sendo errados os amantes, seus amores serão bons’. Não importa como, nem quanto tempo, o que importa é que aconteça e só dure o tempo que realmente mereça”. Dizia o homem, querendo simplificar um pouco essa parte de características, que normalmente com as mulheres costuma ser bem demorada.
A mulher se calou, ficou um pouco sentada, distante, pensando. O homem sabia que era melhor não se atrever a interromper, e passou a observá-la. A luz que não era tão forte, ao bater no rosto dela, merecia uma pintura. Ela não era tão bonita, mas também não era feia… E o conjunto, o agradava muito. A inteligência dela, e a maneira como gesticulava e conseguia completar os raciocínios dele. Ele não conseguia entender como acontecia, e isso fazia dela mais atraente que qualquer uma dessas mulheres de revistas.
Ela enquanto esteve pensativa, imaginou o romance se passando entre eles, os autores. Imaginou cada cena, ali naquela sala. O beijo, os olhares, o sofá, as mãos, e diálogos. Percebeu que os personagens dessa vez, tinham carregado coisas demais dos autores. Ela também se sentia atraída pelo homem, mas, principalmente pela sincronia, amava sincronia. Especialmente quando ela acontecia onde ninguém espera. Mas, existia uma distância razoável entre eles, que não a encorajava a insinuar nada.
Os autores se conheceram numa livraria, no começo do ano,e conversaram por algumas horas. Ela mostrou algo que estava escrevendo, ele se encantou. Ele disse que também escrevia, mas que não costumava mostrar para ninguém. Ele prometeu mostrar qualquer dia a ela, tinham maneiras semelhantes de transmitir pelo papel sentimentos e situações. Ele, sentia como se ela o transportasse à cena que descrevia, podia ouvir os sons ao redor, ver as cores, as pessoas ao fundo, sentir os cheiros… Ele adorava isso.
Se tornaram amigos, em pouco tempo ele já tinha criado coragem e mostrado boa parte do que tinha escrito em toda a vida pra ela. Ela, se surpreendeu, não esperava muito dos textos dele. Ele era realmente bom com palavras faladas, mas ficava a dúvida quanto às escritas. Sentiu a mesma coisa que ele sentia ao ler algo que ela escrevia. Logo surgiu a idéia de escreverem juntos.
Agora a história tinha empacado, era tarde da noite. Eles já sabiam o que iria acontecer, só não tinham mais idéias para descrever como seria. Era quase o fim da história, os personagens estavam num restaurante, jantando. O rapaz iria se declarar e dizer que ia largar tudo, tudinho em Paris, para viver com ela no Brasil. Ele voltaria a ser apenas um poeta. E a mocinha iria sorrir, beijá-lo, e dizer que juntos tudo daria certo. Era a primeira vez que os personagens se encontravam após a separação.
Os autores se olharam, e decidiram que eles mereciam um descanso. Foram, como de costume, na lanchonete perto da casa dele, que era onde costumavam escrever. Ela morava com a mãe, e isso não ajudava quando precisavam ficar sozinhos para criar.
Tinha amanhecido, ela olhou ao redor, estava num quarto. Era o quarto dele, era a primeira vez que tinha entrado no quarto. “Meu Deus”, foi o que ela conseguiu dizer. Ele perguntou o que ela estava pensando, então ela disse: “Ainda não achamos o fim pra história…”. Ele disse que tudo bem, jájá eles resolviam isso. Tomaram café juntos, como se fosse comum o que tinha acontecido entre eles.
A mulher, levantou-se, e foi para a sala. Lá ela releu o último parágrafo que tinham escrito. Voltou ao quarto cantarolando: “Mesmo que você fuja de mim por labirintos e alçapões, saiba que os poetas como os cegos, podem ver na escuridão. E eis que, menos sábios do que antes, os seus lábios ofegantes, hão de se entregar assim: ‘Me leve até o fim, me leve até o fim’…”.
Ele mandou que ela repetisse o que estava cantando. E disse que já sabia qual seria o fim. Depois da cena do restaurante, onde ele se declarava, vinha a cena no quarto dele. Ele cantaria para ela “choro bandido”. A mulher completou: e ela entenderia na mesma hora que “mesmo sendo errados os amantes, seus amores serão bons”.

“Quem se conhece por algo escrito, apaixona-se pela alma”

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