Essa é dos tempos que eu era solteiro. Lá fui eu comemorar o aniversário de Lipe na boate, todo mundo da faculdade me pentelhando porque eu não tinha ido, pra nenhuma ‘saída’ com a turma. Ok, eu cedi, era bem verdade que eu tinha a boa e velha pelada semanal no sábado às 8h30, mas eu sabia que se não fosse, iriam passar um mês me pentelhando.
Eu ainda não tinha 18, logo, minha entrada na boate seria vetada caso o segurança me barrasse; como eu sempre fui cara de pau, fui com minha ID normal, sem nada falsificado, ‘na cara e na coragem’, eu fui tentar entrar; na verdade eu não me importava de ser barrado e ter que voltar para casa, estava liso… A conta do cartão ia vir muito alta se eu entrasse naquela boate. Mas por proteção de algum Deus que gosta de acabar com minhas finanças, eu entrei, o segurança, tecnicamente nem pediu minha ID.
Boate é assim mesmo, monte de gente bonita, homens andando com o peito pra fora (parecendo um pavão mostrando suas plumas, só que nesse caso, mostrando seus musculos superiores) e as mulheres com essas saias altas, e vestidos curtíssimos (ahh como pernas femininas são lindas). E agora o que fazer? Beber.
Antes tenho que explicar, que de fato eu não preciso do efeito bebida para agir, eu até fico mais envergonhado quando estou bêbado (é sério!); só bebi, porque bem, clone de heineken não se desperdiça! Lá estava eu esperando a minha verdinha linda, quando alguém me cutuca, quando viro me deparo com uma grata surpresa.
-Tôp, tu pede uma caipirosca para mim? – era Renata, uma colega-ex-colega minha de Economia (ela entrou no curso e desistiu um mês e meio depois).
-Nata! Pego sim – eu a cumprimentei dois beijinhos rápidos nas bochechas – eu não sabia que tu ia vir!
-As meninas me arrastaram – e ela deu aquele sorrisinho lindo dela – eu tou mais surpresa é com você ter vindo…
-Por que?
-Nunca imaginei você numa boate, principalmente no dia do cover de Los Hermanos, cantarolando ‘Retrato para Iaiá’.
-Não é minha culpa é o único CD que toca no carro do meu irmão. E não é tão estranho assim eu estar numa boate.
-Bem… Você sabe como o pessoal diz: Tôp é uma lenda pra sair socialmente… – e nós dois sorrimos enquanto eu explicava que não era bem assim.
Após pegar nossas respectivas bebidas, acabei conversando com ela, sobre o que andava fazendo, chamando-a para voltar pra faculdade, etc e tals. Acontece que uma semana antes de sair do curso, o nosso grupo empurrara Nata para mim, e bem, ela fazia bem o meu tipo. Branquinha, cabelos num castanho negro, olhos de jabuticaba e um sorriso pequeno, tão lindo. Uma parte estranha dela, é que era magrinha, só que isso não a tornava feia, aos meus olhos combinava com seu jeito de ser, e ela não era aquela magra esquelética, era mais para a magra modelo, sabem comé? Bem, essa noite ela estava com um vestidinho tomara que caia verde-lodo, não lembro bem o resto, só decorei a cor do vestido pelo que viria a acontecer mais tarde naquela noite.
Apesar do clima de flerte, e de duas investidas minhas, ela conseguiu se sair majestosamente, e quando eu indaguei qual o motivo de estar evitando meus lábios ela respondeu com um sorriso provocador. Sem perceber eu me deixei levar pelo nosso aniversariante embriagado que já havia ficado com duas, e agora queria se divertir com as feinhas.
Homem é assim mesmo, quanto mais bebo fica, mais apaixonado por feias fica. Não é como se seu filtro de qualidade desligasse, é como se um repentino sentimento de caridade brotasse em seu peito e ele pensasse ‘preciso fazer uma feia feliz’! Pois bem, era o que Lipe queria fazer; eu não.
É por isso que nessas horas eu tenho as melhores cantadas do mundo! Lipe ficou me perguntando sobre o que falar moreninha feinha que doía!
-Chega pra ela e faz: ‘morena!’ e dá uma pausa dramática, depois: ‘seus olhos brilham mais que charque no óleo tssssssi’ – não sei por que diabos, ele realmente acreditou que aquilo era uma boa cantada e foi até lá. O que não me surpreende foi ela aceitar a cantada após todas as amigas olharem para ele com cara de ‘que idiota’. Lipe fez sua feinha feliz.
Depois disso eu ajudei ele a ficar com mais três, e sem perceber já estava embriagado também. As próximas cantadas usadas foram: ‘você acredita em amor à primeira vista?’; depois ele dava uma voltinha e dizia ‘e à segunda?’; falando bem rápido e sorrindo ‘pena de urubu, pena de galinha, pra ficar comigo é só da uma risadinha!’ e ‘meu nome é Itaú, feito pra você’.
Após muita risada, ele viu que eu não tirava os olhos de Nata e disse ‘é a sua vez de soltar uma dessa’. E não é que eu soltei? Até hoje não sei porque fiz isso, acho que a cara de pau de sempre ajudou…
-Se VERDE é assim imagina MADURO – foi o que saiu da minha boca no ouvido dela, e que por algum motivo muito divino, a fez cair na gargalhada, pois bem, eu não pensei duas vezes e lhe tasquei um bom e velho beijo.
Por acaso, além de mim, moravam mais cinco pessoas na Zona Norte do Recife, e ninguem estava de carro, logo iriamos pegar dois táxis. Claro que eu e Nata fomos em um a sós. Não sei também o que houve, mas de repente, passamos a ignorar que havia um taxista (até acho que o pobre coitado já estava acostumado com isso), eu paguei 10 reais a mais pra ele pegar o caminho mais longo (e como ele pegou) até a casa dela, e só sai de lá às sete horas da manhã. Logo que chegamos a casa dela, pegamos o carro e fomos até o Drive-thru da McDonalds (por algum motivo idiota eles só vendem para quem está de carro a partir das 1h da manhã, e já passava das 4h), e voltamos, a Mc ficava duas quadras da casa delas. Aqueles eram meus últimos dez reais, então eu andei cerca de uns 2 km todo arrumado (se bem que as 7 da matina e depois de aproveitar bastante meu tempo com Nata, eu estava BEM dessarrumado) até chagar em casa. Pouco antes de cair na cama recebi uma sms ‘você podia ter ficado mais’, e eu respondi ‘foi você que me botou pra fora antes que seu pai acordasse…’. Mais tarde, quando acordei vi uma sms ‘nem sempre se deve obdecer o que uma mulher diz, principalmente uma bêbada’. Eu até respondi algo, mas ela não respondeu mais; acho eu que as sms mandadas por ela foram por causa da falta de sono e álcool no sangue.
Bem eu não joguei minha pelada semanal naquele sábado, e na outra semana eu, de fato, fiquei com o saldo negativo na conta. (o que paguei na boate foi bem salgado!)
Não falei mais com ela por um bom tempo, até mandei outra sms uma semana depois, ela não respondeu. Um mês e meio após a festa de Lipe, comecei a namorar, e advinhem quem mandou o primeiro recado quando alterei meu status de relacionamento no orkut? Nata, dizendo: ‘namoraaaaaaaaaaaando é? kkkkkkkkkkk…’, não pude fazer nada, a fila andou, ou melhor regrediu, e hoje só tenho uma certeza, as melhores cantadas são as mais ridículas!
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