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segunda-feira, 28 de março de 2011

Deixando a vida surpreender.


Paula não é uma pessoa muito receptiva a surpresas. Não sabe como reagir, que cara fazer… Enfim, não gosta, fica constrangida. Ela é metódica, planeja tudo. No domingo de tarde, sua atividade preferida é sentar e organizar seu horário da semana, com todas as suas atividades. Adorava aquilo, se sentia numa gincana, correndo contra o tempo para realizar todas as atividades pré-definidas.

Esse domingo, não podia ser diferente. Paula sentou na sua mesinha, organizou seu horário, como sempre. Foi dormir naquela ansiosidade, pensando no que iria fazer na segunda. Só que, ela recebeu uma surpresinha. Uma visita digamos, inesperada, da gripe!
Ela que já não gosta de surpresas, pensava se o que doía mais era a cabeça ou o coração por não cumprir as suas atividades programadas. Com um humor digno de TPM, Paula levantou da cama e foi preparar os “quitutes” gripais, já que não tinha outra pessoa que fizesse por ela. Embriagada de chá de limão com alho, ainda tentou fazer algumas das coisas da sua lista, percebeu que estava sem condições e desistiu.
Paula então tirou o dia para fazer as coisas que mais gostava de fazer (além de se organizar, claro). Convocou o poder de seus filmes favoritos, de seu livro de cabeceira e de suas amigas. Após reorganizar seu dia, viu sua radiante beleza no espelho enquanto se arrumava, separou sua caixinha de lenços de papel Softy’s, e esperou suas amigas para a sessão cinema. O dia acaba, e Paula tinha se divertido como nunca. E isso fez ela pensar “que bom é poder esquecer as coisas que planejei e abrir a porta para as surpresas da vida”.
Então ela se deu conta de que ela não gostava daquilo, de ser organizada e nem da gincana, aquilo era a desculpa que ela arrumava para fazer das coisas menos pesadas pra ela. Ela havia se acostumado com aquilo tudo, e esquecido de sua época de menina e o quanto adorava as surpresas que seu pai trazia vez ou outra, quando chegava do trabalho. A partir desse dia, ela aboliu suas listas (não que agora ela seja desorganizada e irresponsável), e passou a deixar as coisas irem acontecendo aleatoriamente junto com as surpresas do dia-a-dia.

Mesmo que você não seja tarado por organização como a Paula, já deve ter notado; a vida nos força a mudar o que nós planejamos o tempo todo. Não são só surpresas ruins como uma gripe monstra nos mostram que, às vezes, é bom desorganizar mesmo (desopila, meu bem!). Tanto você pode levar um pé na bunda do seu namorado, como pode conhecer um cara lindo na padaria (que gosta de cachorro, dá tulipas e ama sorvete de graviola) e namorar com ele (sério, minha amiga conheceu o namorado dela na padaria!).Óbvio que pode chover naquele fim de semana que você programou de ir pra sua casa de praia, mas pode fazer aquele solzão no sábado depois de dias de chuva. Pode ser porque aconteceram coisas chatas, ou coisas maravilhosas, vez ou outra nos pegamos tendo que reorganizar nossos passos.

E qual o problema da vida nos pregar peças? Nenhum! Pelo contrário acho ótimo pegar uma gripezinha. Tá bom, parei! Ninguém gosta de pegar uma gripe, de levar um fora do namorado, nem chegar na praia e tomar banho de chuva. Mas, tudo fica bem mais fácil quando a gente resolve aceitar que o problema existe e que, a gente tem duas opções: ficar resmungando de cara emburrada porque deu tudo errado ou se adaptar às novas circunstâncias e fazer a vida mais divertida de viver. Pegou uma gripe? Faça como a Paula. O namorado te deixou? Aproveita, pode aparecer um bem melhor. Chegou na praia e tá chovendo? Vá jogar baralho, tomar aquele banho de chuva, enfim… Carpe Diem et Inutilia Truncat! Já parou pra imaginar que “boring” seria se soubéssemos tudo que vai acontecer na nossa vida até o fim? Com certeza, teríamos a sensação de segurança que nos acalmaria nos momentos de incerteza, mas… Que sem graça!

Sei que não é fácil se adaptar à certas circunstâncias, porque também, a vida nos arruma cada uma! Mas se a gente aceita o inesperado e decidimos nos guiar por ele, facilitamos a nossa felicidade. Se bem que, ser feliz é bem relativo… (mas, isso já é outro assunto). Vamos combinar que felicidade não tem a ver com surtos de histeria quando as coisas não saem como planejamos. Enquanto a vida tenta me pegar de surpresa com suas situações, eu pego ela de surpresa com as minhas reações.


KT Tunstall - Suddenly I See

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