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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Um namorado pro dia dos namorados

Era um sábado, pós-depressão-pré-dia-dos-namorados. Pois é, eu tinha passado a minha querida sexta-feira completamente irritada, abusada, estudando pra uma prova da faculdade e ajudando minhas amigas a comprar presentes para os seus namorados. Na TV mil propagandas sobre o amor, na rua os casais a cada segundo mais melosos e apaixonados, nas lojas só o que se via eram corações por todos os lados. Ótimo, eu participo do dia dos namorados e nem tenho um namorado. “Look what you’ve done” tocando loucamente na minha mente, o piano me deprimindo, a letra que não me deixava não pensar na vida, e aquela voz me fazendo chorar.
A minha sorte é que tenho uma amiga recém-solteira e… Sorte? Deve ser. Nossa programação: São João do prédio dela, segundo ela “só dá gente velha”. Ótimo! Tudo o que eu quero é um velho rico pra me ajuntar. Deusolivre! Cheguei lá ela tinha convidado também meus ex, oba! Não é tudo que se espera para um dia dos namorados? Passamos uma hora contada de relógio mofando ao som de “ela era miudinha, botei seu nome tamborete de forró”. E então resolvemos que era hora de tentar outro lugar.
Possibilidade um: Tributo a Bon Jovi. Eu já me imaginando ao som de misunderstood, “IIII should’ve drove all night…”. NÃO! Não vai rolar. Possibilidade dois: Cover de John Mayer. Agora eu me imaginava ao som de Free Fallin’: “And I’m a bad boy cos I don’t even miss her. I’m a bad boy for breakin’ her heart and I’m free, free fallin’”. E o melhor, mulheres que estiverem acompanhadas não pagam! Ok, deprimente, não vai rolar também! Possibilidade três: releitura de sucessos de vinícius de moraes… Puta que pariu! Possibilidade quatro: pra variar cover de Jorge Ben, pelo quarto final de semana em menos de três meses. Não, não e não! Possibilidade cinco: noite dos “avulsos” numa boate gay. Será? Vai que a gente alopra loucamente lá? Não vai ter muito pretendente pra ver mesmo, a não ser que eu quisesse uma “pretendenta”, o que não é o caso.
Resolvemos que ficar no São João do prédio da minha amiga não seria tão ruim. Pra quê? Depois de muita Jurubeba dançamos quadrilha e comemos comidinhas regionais. Canjica pra cá, pé-de-moleque pra lá, eis que surge um cheiro diferente de qualquer coisa com milho. Era o inconfundível cheiro de perfume de cachorro e não era nada do tipo “Puppy Dog”, reconheci de longe o cheiro do 212 Men da Carolina Herrera. Digno! Olho pra trás, e vejo alguém numa tentativa de aproximação, não demorou muito:
- Desculpa te incomodar mas, me apaixonei pela sua sobrancelha! Ela é linda, mais bem feita nunca vi!
- Er… Eu não faço a sobrancelha.
- Ela é assim naturalmente? Ela é linda, como você.
- É sim e obrigada.
Nesse momento eu já olhava pros lados procurando saber se eu tinha parado em alguma boate gay e, não, eu não estava em uma boate gay. Conversamos um pouco mais, sobre a vida, descobri umas coisas em comum. Ele não era lá o príncipe encantado, mas também não era o Quasimodo, pensei que mal não tinha em conversar um pouco com ele. Eu não tava fazendo nada, ele também. Papo vai, papo vem e acabamos chegando no assunto: dia dos namorados.
Ele me perguntou se eu tinha namorado, eu disse que não e ele disse que também era solteiro, o que eu já imaginava desde o momento em que tive o primeiro sinal de sua existência: o cheiro. E depois fui confirmando ao observar o modo de falar, e de demonstrar suas intenções comigo essa noite. Depois de eu muito afirmar que odiava o dia dos namorados, conseguimos mudar o assunto, mas, ele não se conteve:
- Vem cá, você não tem namorado, eu não tenho namorada… e, hoje é 12 de junho!
- É eu sei, essa é a hora que a gente senta no chão com um copo de bebida e afoga as mágoas?
- Não, eu pensei em uma coisa um pouquinho melhor! (E sim, ele soltou um risinho malicioso! Pasme!)
- Tipo o que?
- Tipo você ser minha namorada.
- Comé quié?
- É, só por hoje…
- Ah não! Puta que pariu, essa história de novo não!
- Como assim?
- Ano passado, me fizeram a mesma proposta, sendo que virtualmente porque eu tava morando em outro estado.
- Entendi, a diferença é que virtualmente não se pode fazer isso aqui.
E quando eu percebi eu estava beijando um cara com uma certa fixação por sobrancelhas, que usava 212, e que – ainda bem? – eu nunca mais ia ver na vida! No fim da noite ainda ganhei uma rosa de papel, e ele acabou pedindo meu telefone e, eu não dei.
- Desculpa, mas já são 3 am, o dia dos namorados acabou.
- Só o telefone?
- Não, não. Eu lembro onde deu essa historinha de brincar de dia dos namorados e manter contato.

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