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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma segunda, um café, o fim.

Sophia, assim como eu, odeia finais. Fim de namoro, fim de festa, fim de filme, fim de férias, fim de feira… Finais. Era uma segunda-feira de manhã, e não era porque a segunda não era fim de semana que fazia com que ela fosse algo adorável. Para ela, inícios quase sempre eram bons, mas não os começos de semana.
Ela levantou, passou na frente do espelho e não resistiu. Checou seu rosto, percebeu olheiras e analisou um fio de cabelo branco na sua franja. Não se preocupou, no auge de sua beleza e dos seus vinte e poucos anos, um fio branco nada mudava. Decidiu que de hoje não passava. Segundas-feiras eram propícias a começar dietas, a começar a estudar, a começar… resolveu que hoje ia terminar, para recomeçar.
Entrou no chuveiro, passou quase uma hora numa ducha quentinha. Se enxugou, pensou por uns segundos em quanta água tinha gastado em uma hora de banho… Mudou o foco, agora Sophia se lembrava do que precisava fazer hoje. Se vestiu e voltou ao espelho, se olhou sem vaidade e se perfumou. Se maquiou, maquiagem de sempre; escondeu olheiras, destacou seus olhos azuis com uma sombra azulada e um pouco de rímel.
Pra quê? Um segundo depois caiu no choro. Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim. Outro amor se acabou… Limpou a maquiagem borrada, e fez o possível para dar um jeito. Chorou de novo e desistiu. Limpou a maquiagem e saiu, de cara limpa. Encontrou a vizinha de porta, uma senhora, quase sempre simpática. A vizinha não fez questão de disfarçar que observava a cara de choro e o vestígio de maquiagem, estampados em Sophia. Como eu, Sophia tinha vontade de chorar mais, quando percebia que alguém via que tinha chorado. Mas, segurou as lágrimas, sorriu e cuspiu um “bom dia”.
Entrou no carro, jogou todo o seu material de trabalho no banco de trás. Abriu o estojo de maquiagem e se viu no espelhinho, definitivamente não estava bonita. Fechou o estojo, ligou o carro e o rádio. Resolveu cantarolar. Mesmo que não adiantasse, era só por costume e então, entrou no “modo automático”. Quando se deu conta, já estava na cafeteria que gostava de ir antes do trabalho. Lá encontraria ele, e colocaria o ponto final.
A tristeza que ficou estancada quando entrou no “modo automático”, acabava de voltar. Sophia tinha visto ele, sentado com um jornal na mão, olhando distraidamente uma página qualquer. Saiu do carro, pegou a bolsa, checou o celular, nada novo. Atravessou a rua, sem nenhuma cautela. Nem um lado, nem o outro mereciam sua atenção agora. Sophia tinha um ponto fixo: ele.
Observava cada movimento dele, cada reação, olhar, respiração… Começava a gravar na memória o momento, mesmo sem querer. “Depois da tormenta, sempre vem a calmaria”, mentalizou. Ela já sabia que depois viria o recomeço. Sentou calmamente e pediu seu café com um misto quente. Disse um “oi” mais discreto que calcinha sem costura. Ele a fitou longamente sem nada dizer, pela primeira vez desde que tinha chegado. E naquele momento, sem motivos (pensou Sophia) não existia nada mais angustiante do que ver os olhos castanhos dele fixos nela sem nada revelar.
Ela suspirou e olhou para a janela, ele continuava a olhando e pensando como Sophia ficava especialmente bonita quando a luz do sol a iluminava, e quando o vento balançava seus cachos de uma maneira divertida. Ele quis sorrir, mas não o fez. O café chegou, Sophia fechou os olhos por momento, quis sentir o vento, como se tivesse esperança de que as palavras que queria dizer fossem entrar magicamente como vento janela adentro e fossem parar na sua boca.
Ainda mudo, ele largou o jornal, passou a mão nos cabelos dela observando o movimento, para em seguida olhar em seus olhos e finalmente deixar as palavras se realizarem em sua voz. Disse que sabia o que ia acontecer. Eis que o silêncio reinou novamente, por longos dois minutos. Ele quis pedir pra ela ficar, mas de nada ia adiantar. Quis lhe prometer melhorar, mas, quem iria acreditar? Sophia disse adeus e chorou, já sem nenhum sinal de amor. Ele já não lhe servia, tantos estragos… Não podia olhar para ele, essas lágrimas não pertenciam a ele, nem a ninguém. Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim! Outro amor se acabou… Disse adeus e chorou, já sem nenhum sinal de amor.
Levantou-se, não precisava se explicar. Adeus era suficiente, ele sabia a razão de ser assim. Ele aceitou, argumentos não funcionariam. Ela, dessa vez sem foco, olhou para um lado e para o outro, atravessou a rua. Procurou na bolsa a chave do carro, achou, e ouviu ele chamar por ela. Sem entender porque, esperou. Ele olhou em seus olhos, chorando a beijou, sem amor, só porque é triste o fim.
Sophia olhou, e sorriu. Ela não precisa mais de você, sempre o último a saber… Ela o presenteou com um último olhar faceiro, ele aproveitou cada segundo do presente. Ela entrou no carro, e seguiu para mais um dia de trabalho. Ligou o rádio e cantou “She will be loved”, sem aquele peso nos ombros e sem o “modo automático”.

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