(Nada mais clichê que a morte).
Nunca tive medo de morrer. Quando uma amiga morreu percebi que tinha medo da morte sim, mas não da minha. Medo de ficar na vida sem as pessoas que amo. Soou egoísta esse meu pensamento, mas não quis mudar o foco, era a realidade. Pensava muito nesse assunto quando era pequena, viajando em memórias me vejo puxando a barra da saia da minha mãe, ou empurrando meu dedinho indicador no ombro do meu pai, sempre com a mesma questão: “quando eles iriam morrer”. Eu sempre chorava, mesmo que eles dissessem “Vou viver para sempre, meu amor”. Talvez por saber que era mentira, talvez só por medo do para sempre ser mais perto do que eu queria.
Nascer é, sem dúvidas, uma das maiores roubadas em que você se enfiou na vida. Você tá lá, na maior tranquilidade, dentro da barriga da tua mãe… Piscininha aquecida, alimentação sem nenhum esforço, nem o trabalho de respirar você tem. E aí, algo estranho e terrível acontece! Você vai sendo empurrado pra fora do paraíso.
Apesar de não ter a mínima idéia do que está acontecendo, você imagina que coisa boa não é. Aqueles zilhões de luzes, pessoas estranhas ao redor te olhando, um médico te segurando de cabeça pra baixo esperando você chorar (bem cruel!), aquele frio danado… Epa! Cadê o paraíso? Você ainda não foi presenteado com a cultura e seus instrumentos que fariam você entender essa situação “mágica”, mas já possuí seus instintos que devem dizer: “que merda! Fui parar no outro lado”.
Daí algo de bom acontece, agora você já está limpinho, quando uma estranha te leva pra sua mãe, um colo quentinho com leitinho quentinho e doce. Você deve pensar: “que cordão umbilical que nada! Comer pela boca é bem melhor…”. E a partir daí você começa a se apaixonar (É, e você nem sabe o que é se apaixonar ainda) pela vida! Por brinquedinhos, ursinhos de pelúcia, bonecas, bicicletas, colégio, casa, vestibular, tédio, computador, amor entre tantas outras coisas… A gente se acostuma com isso e aí, um certo dia, tudo isso é tirado da gente (“que injusto!”, pensamos), é a maior roubada na qual nos enfiamos na vida (a morte)! Mas quem sabe do outro lado não tem colinho, leite quente e cafuné?
A morte não me preocupou mais por um bom tempo. Até o dia em que outra amiga minha veio falar comigo sobre isso. Devido a uma doença (mais psicológica do que real), ela estava com muito medo de morrer. Ela pensava constantemente sobre a morte e quanto mais pensava, mais depressiva ficava. Eu como pobre mortal, pensava em como poderia ajudar. Apesar de conversar sobre o assunto com ela, não descobri como ajudá-la, me senti de mãos atadas assistindo àquilo.
O medo de morrer não é inato, ele acaba sendo introjetado desde a infância e atinge a todos os seres humanos. E dependendo do nível de ansiedade da pessoa, o medo da morte pode se tornar algo realmente aterrorizante. Dependendo da maturidade psicológica ou do envolvimento religioso e filosófico, o medo pode se tornar mais ou menos intenso. O que dá medo não é tanto a morte, mas sim o processo dela: a dependência, a impotência, o sofrimento, o desconhecido. Sabemos que morremos todos os dias, um pouquinho. Na verdade, o que mais preocupava minha amiga não era só “quando”, mas o “como” e “do quê” ela iria morrer. E nesse caso, não era algo em que eu poderia ajudar, isso tinha que ser uma conscientização dela, era uma coisa que ninguém poderia fazer por ela, a não ser um profissional.
Uma depressão nunca é algo bom, mas no caso dessa minha amiga, toda essa situação fez com que ela repensasse suas ações. E se tornasse uma pessoa melhor, mas excessivamente melhor (queria fazer tudo certo sempre, e nada em excesso é bom). Elogiei sua melhora, mas tive que dizer que todos nós erramos (e muito!), isso é muito natural. Disse também que errar de vez em quando não faria dela uma pessoa ruim.
Às vezes, o medo da morte pode estar relacionado com o não saber viver. As pessoas tem medo de morrer e de não viver tudo o que teriam para viver. Não adianta sofrer por antecedência. É importante viver cada momento em sua vez, a vida é pra ser vivida e a morte, bem, ela é pra ser morrida. E isso, é uma coisa que nós não podemos mudar, só aceitar e aprender a lidar. Então não viva seus dias mornamente, viva intensamente. Porque a morte, você vai ter que morrer intensamente mesmo. Não há um morto meio vivo, mas existem muitos vivos meio mortos.
“Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu, talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”. (Sêneca). Temos que aceitar que é isso aí, e que uma hora ou outra, a vida se vai. E aí, amigo? O que você fez da sua vida? Esperou a morte? Viveu por viver? Precisamos de um pouco mais de alegria de viver. E concordar que apesar de tanta coisa doida e horrível no mundo, a vida é bonita, é bonita e é bonita!
Precisamos levar em conta as crenças de Fulano a respeito da morte, os rituais que as cercam. É necessário que tenhamos sempre em mente que todo mundo necessita encontrar uma razão para viver e uma razão para morrer. Dependendo da cultura, podemos ver que alguns comemoram a morte. Não consigo encarar a morte como algo bom, apesar de tanta gente dizer que vamos pro paraíso, ninguém voltou pra me dizer. E como já disse, não tenho medo de ir, tenho medo que as pessoas que amo vão. O “nunca mais” dói muito: “Nunca mais vou ver tal pessoa sorrir, cantar, me olhar, falar, me abraçar… Nunca mais vou sentir ela perto de mim”.
Depois desse momento de uma amiga morrer e a outra estar vivendo meio morta, resolvi que a minha vida não ia passar em branco. Despedidas são sempre, sempre mesmo ruins (quando se trata de alguém que amamos). E são piores quando sabemos que a despedida é pra sempre. Como um ser humano normal, sou cheia de dúvidas com relação a isso e procuro não pensar muito, mas espero que quando isso acabar exista mesmo um “outro lado”, onde eu possa encontrar essas pessoas.
Aqui vai o meu conselho: Existem duas maneiras de encarar a morte: morrer de medo dela e deixar que esse medo tome conta da sua vida te impedindo de viver ou aproveitar que ela vai chegar e viver do jeito que você quer, fazendo o que você quer. Escolha sua maneira de viver e viva, seja feliz! A morte existe e não podemos mudar isso. Não viva com medo dela, ou esperando que ela chegue. Sorria mais, ame mais (e diga que ama), cante, dance, diga sempre tudo que precisar, sonhe, realize, se arrisque mais. Não deixe de fazer algo que quer porque alguém está te bitolando, simplesmente faça. Consequências vão sempre existir, boas ou ruins, elas existem para qualquer coisa que a gente faz. E não acrescente dias à sua vida, acrescente vida aos seus dias!
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