Cheguei em casa tudo estava de cabeça pra baixo. Móveis, roupas, livros, coisas… Todas as coisas! Mas, nenhum vestígio dele. E eu tentei, realmente tentei, de alguma forma não lembrar da noite passada. Mas não tinha como. Até ao sentar na mesa da cozinha, além da cadeira vazia ao lado que por deixar tanto espaço me espremia o coração contra as paredes, encontrei também mais pedaços: umas caixas, uns papéis, um sapato sem par…
Em cada cantinho dessa merda de apartamento velho, que a gente conseguiu com tanto esforço, me vinha uma lembrança. Das mais antigas e lindas às mais atuais e tristes. E eu queria sentir raiva, só raiva. O problema é que depois da raiva, vinha saudade. E entre ciclos de: raiva-mais raiva-saudade, fiquei eu, sozinha aqui.
Eu não liguei pra ele, eu ainda tava com raiva. Por que qualquer bosta que ele fazia comigo, me deixava tão irritada? E por que, de qualquer maneira, eu continuava amando igual ou mais? “Esqueça e vá ver Tv” – Segui meu próprio conselho. No caminho acabei parando de frente pra porta da sala, 12 de Outubro de 2010 – gritaria! Era “nunca mais”, “desaparece”, “te odeio” e “imbecil” a toda altura. Por mais que minhas lágrimas denunciassem que eu não odiava, e que doía tanto em mim falar essas coisas quanto nele em ouvi-las, eu falava assim mesmo.
E aí minha memória correu pra 10 de maio de 2007 – euforia! Nós dois carregando caixas, malas, móveis e cacarecos, passando numa velocidade muito rápida, na minha imaginação, pela porta. Apesar de muito rápido, eu sentia os cheiros, e a euforia em nossos rostos. Lembro-me claramente da primeira coisa que fizemos ao entrar: instalar o Ihome dele e colocar pra tocar. E a música que marcou foi Tão perto, tão certo – Volver. Que mais tem a ver com o que a gente tá passando agora: “Resolvi que tenho a vida inteira para sentir de perto essa tua ausência em mim”.
Raiva-mais raiva-saudade. Isso é tão injusto! Por que eu que fico com as lembranças? Por que que o apartamento fica comigo? Resolvi, vou vender. Metade pra mim, outra pra você. E as lembranças? Ah, elas ficam pra ninguém. Alguém que venha e crie novas delas por aqui, que recolha tudo que passou, que limpe e ponha tudo na estaca zero. Assim como fizemos, um tempo atrás, quando pisamos a primeira vez aqui, os dois juntos, de pé direito. Mal sabíamos que o fim, teria começo por causa do apartamento. Mofo ali, vazamento aqui, contas, contas e contas!
A gente não dava conta, brigava, e eu sentia tanta falta dele. Dele de verdade, não de quem ele era agora. Eu sei que ele me alertou, que o apartamento era velho, podia dar trabalho, mas “é em frente ao parque, e a gente pode reformar”. Tá, meia culpa minha, meia sua. Talvez mais minha, por encrencar tanto. Mas, às vezes, mais sua, por levar tudo com tanto descaso.
Não lembro como começou, mas, a gente despejou tudo um no outro. Toda a lixarada de anos, de uma vez, tudo de ruim. Em momento algum, lembramos do seu Ihome, naquele dia! Da parede do banheiro que a gente pintou umas coisas meio estranhas, que só faziam sentido pra nós dois, separadamente, e ao mesmo tempo juntos. Lembro de como foi divertido, reformar tudo, e também de como foi triste, destruir tudo.
Fui atrás dos velhos sentimentos através de uma nova reforma. Resolvi que não ia mais vender, já que eu mesma podia apagar todas as velhas lembranças ali e criar novas. Foram longos dois meses, mais longos por não o ver, por raramente nos falarmos. Mas, foram realmente importantes. Não encontrei os velhos sentimentos na reforma, mas encontrei a mim.
Durante esse tempo eu aproveitei e me reformei também, me curti mais e mais e encontrei em mim tanta coisa que eu tinha de bom e tinha perdido. Percebi que eu estraguei todo o nosso relacionamento. Ele não poderia tentar sozinho, para manter o sentimento é preciso um trabalho em dupla. Mudei o visual, mas por dentro fui atrás de tudo que me era essencial, esqueci velhas mágoas, e passei a viver pra mim e não por outra pessoa.
E foi aí que ele reapareceu pra mim. Porque ele precisava de mim inteira, e não de uma pessoa que era metade ela mesma e metade alguém que quer agradar ao outro. E eu estava tão feliz por estar bem comigo, de não viver por alguém. Excluí possessividade das minhas características. Eu queria ele comigo pra sempre! Mas agora, eu o queria junto de mim e não que fosse só meu. Começamos uma nova reforma. Enchemos de cores novas cada canto do apartamento. Se era pra começar algo, que fosse do zero! 1 de Janeiro de 2011 – euforia!
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